descobri uma pausa
no barulho do mar
já mudei as paredes de lugar
não atiro-me mais à luz
desaprendi o gosto do sol
abortei alegrias desnutridas
e costurei janelas fechadas
nas grades dos olhos
o céu está seco
os passos adormecidos
mas as entranhas permanecem frescas
ainda há vida
espasmos artérias e vísceras
escapando de mim
somando sangue nas veias corrompidas
do mundo
tudo é ensaio
cansaço e dormência
e o arrastar das unhas
do fim dos tempos
nas minhas costas
não me arrepia mais