No meu processo de constante estudo e compreensão de temáticas étnico-raciais, me deparei com bell hooks. O nome é assim, com letra minúscula mesmo. Isso porque a autora não podia se importar menos com a questão do nome, ela sempre quis que o foco fosse no que ela tão intensamente queria compartilhar com a sociedade. E no meio desses compartilhamentos, hooks lança “Olhares Negros – Raça e Representação”, livro de 1992.
Aqui no Brasil, a obra só foi publicada em 2019. Logo no início da leitura, nos deparamos com um aviso da autora, alertando que os textos presentes no livro “têm o objetivo de inquietar e desviar, de serem disruptivos e subversivos […] A ideia é essa: provocar e engajar”. Dessa forma, me deparei com inúmeros e figurativos “tapas na cara”.
Antes de embarcar pelas páginas de “Olhares Negros”, é importante conhecer hooks, autora norte-americana, batizada como Gloria Jean Watkins. bell lançou mais de trinta livros, muitos ainda não traduzidos para o português. Ela escreve críticas culturais, teoria, memórias, poesia e contos infantis. Graduada em literatura inglesa na Universidade de Stanford, ela fez mestrado na Universidade de Wisconsin e doutorado na Universidade da Califórnia.
hooks comumente debate sobre sobre raça, gênero e classe, com foco em arte, história, feminismo e educação. Nesse livro em particular, ela traz a discussão sobre a representatividade do negro na mídia. Mesmo tendo sido escrito em 1992, as discussões presentes nele ainda são necessárias na atualidade. Cada ensaio traz a urgência em criar uma intervenção radical na forma como debatemos raça e representação.
Mesmo sendo um livro desenvolvido a partir de uma perspectiva norte-americana, muito do que hooks reflete em sua escrita pode ser aplicado na realidade brasileira. A autora pontua a necessidade de rompermos com o patriarcado supremacista branco capitalista para possível descolonização de nossas mentes. E, para que isso aconteça, hooks enfatiza o quanto é importante que a sociedade nos enxergue como sujeitos subjetivos.
A autora, em 12 distintos ensaios, argumenta que essa melhor representação do sujeito preto na mídia depende de como a experiência da negritude e das mulheres negras, em especial, são retratadas na literatura, na música, na televisão e, sobretudo, no cinema. “Olhares Negros – Raça e Representação” é leitura obrigatória para se pensar em uma comunicação antirracista, com um retrato digno da população negra sendo posto na mídia.