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MADONNA: A EXPRESSÃO DA LIBERDADE

Se em 2020 ainda nos deparamos com imposições de valores pautados em narrativas religiosas, imagine só a força que essa ferramenta de controle exercia nos anos 80. Foi em um contexto de intensa repressão da liberdade individual que surgiu Madonna, artista revolucionária que firmou sua carreira como um dos maiores acontecimentos de todos os tempos. 

Desde que tenho consciência de mim, Madonna sempre esteve presente no meu imaginário e na fundamentação da minha noção de arte, destacando-se como referência musical desde muito cedo. Acredito que já nasci com a notícia de sua existência no meu hd, tamanho impacto e influência que ela já exercia em 1996. Entretanto, antes de se desenhar com nitidez no meu entendimento, Madonna atravessou censuras, contrariou previsibilidades, e levou às últimas consequências a reivindicação de seus próprios significados. 

A criança de natureza rebelde, que ainda na infância sofreu a perda trágica de sua mãe, vítima de um câncer de mama aos 30 anos, se desenvolveu em uma jovem determinada a alcançar a glória. Aos 19 anos, com poucos dólares nas mãos, mudou-se para Nova Iorque e mergulhou na efervescência artística que banhava a cidade. 

Lá, Madonna integrou duas bandas. The Breakfast Club, onde se encontrou como vocalista e, em seguida, migrou para a banda Emmy, onde deu início ao seu processo de composição. Mas foi somente em 1981 que ela assinou contrato com uma gravadora do selo da Warner Music, através da qual lançaria seu primeiro disco, MADONNA, em 1983. 

Em 84, com o álbum Like a Virgin, sucesso instantâneo, Madonna despertou a ira de conservadores que exigiam que seu trabalho fosse banido das rádios. Representando uma espécie de subversão da ordem ao contrariar padrões e ostentar opiniões em uma estética provocativa, a artista deu início a conflitos em grande escala com religiosos. 

O emblemático Like a Prayer, lançado em 89, veio com o polêmico clipe em que Madonna se relaciona com um santo negro e esbanja símbolos católicos enquanto dança rodeada de cruzes em chamas. O vaticano condenou o clipe. Ignorando as agressões e críticas ferozes, Madonna continuou. 

Continuou e inovou na ousadia quando lançou, em 1990, o clipe sexualmente explícito de Justify My Love, que conseguiu a faceta de ser banido da mtv. Mas, em uma atitude ainda mais determinada, o clipe foi vendido no formato de vhs e vendeu milhões de cópias. 

O álbum Erotica, de 92, veio acompanhado do lançamento do livro SEX, escrito por Madonna. Na obra, fotos eróticas foram protagonizadas por artistas como Big Daddy Kane, Vanilla Ice e Naomi Campbell. A essa altura, Madonna já sustentava a posição de protagonista no movimento libertário que sua personalidade possibilitou àquela realidade. 

Para além de chocar, Madonna pretendia promover reflexões. Questionar o estabelecido, estimular a livre expressão, assumir o feminismo, brincar com questões de gênero, levantar bandeiras e até mesmo desmontar sua própria imagem ao lançar Ray of Light em 98, abordando maternidade e outros temas que o senso comum julgava distante e descolado da artista. 

Hoje, aos 62 anos recém completos, Madonna escandaliza pela insistência em permanecer em atividade, contestando a lei social que proíbe o envelhecimento feminino. Uma vida inteira de desobediência e revolução que lateja no direito de aceitar o tempo. 

O resto do mundo teme as mudanças, mas Madonna as provoca com um sorriso desafiador. 

Viva a indecência de envelhecer. Viva o escândalo da sexualidade. Viva a obscenidade de ser mulher. Viva Madonna e sua ininterrupta mensagem: viva.

 

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