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Narrativas Ciganas contadas no documentário “Calon conta, Calon canta”

Calon conta, Calon canta –  Narrativas Ciganas

Dar voz para pessoas que precisam contar suas histórias é uma das maiores riquezas que o jornalismo pode oferecer à sociedade. Mais do que entrevistar alguém, a profissão envolve a capacidade de ouvir, entender e despir-se de preconceitos para conhecer o outro, rompendo barreiras capazes de trazer transformações significativas para nossas vidas. 

No documentário “Calon conta, Calon canta –  Narrativas Ciganas”, três estudantes de jornalismo, Alice Araújo, Larissa Almeida e Lorena Régis, utilizaram as ferramentas jornalísticas para contar a história da Comunidade Cigana de Pindoretama – CE, narrada pelos próprios ciganos. 

Hoje, no Mural Acadêmico, elas compartilham um pouco sobre o processo de produção do documentário e os resultados do trabalho. Confira! 

Mural da Ana Paula: O que levou vocês a escolherem o tema do documentário? 

Alice: O tema surgiu a partir de uma ideia da minha mãe, que é Secretária de Educação do meu município, Pindoretama. Ela queria poder realizar algum trabalho com a comunidade cigana da nossa cidade, e me perguntou como eu, enquanto estudante de Jornalismo, poderia contribuir com essa ideia. Eu estava no quinto semestre, tendo cadeiras de Jornalismo Comunitário, e de Integrador I, e pensei em unir a teoria do Comunitário, com a prática de Integrador, onde o produto final da disciplina era um documentário. Sendo assim, pensei que essa poderia ser minha contribuição: um documentário a respeito da história da comunidade cigana de Pindoretama. Quando contei na sala, as meninas (Lorena e Larissa), me apoiaram de primeira. Então, com o apoio da Secretaria e do Instituto Cigano do Brasil partimos para ação! 

Mural da Ana Paula: Em algum momento vocês precisaram mudar a abordagem inicialmente pensada?

Alice: Não. Para mim sempre foi essa a ideia: sentar e conversar com eles, e mostrar essa espontaneidade, para que fosse tudo o mais natural possível, sem estereotipar, ou romantizar, sempre respeitando o que eles tinham para nos contar, o que eles queriam falar, porque sempre foi inegável para mim essa necessidade da fala deles ser ouvida. Desde criança tenho algum contato com o povo cigano, pois já fui vizinha do rancho de uma das famílias, e em mim foi crescendo essa percepção de que eles tinham essa força cultural muito grande mas que por diversos motivos era pouco conhecida e até mal interpretada por muitos. Várias vezes, quando contei que estava fazendo um documentário sobre os ciganos, as pessoas me questionavam barbaridades a respeito deles, fruto do desconhecimento a respeito dessas etnias. Então quando eu ouvia perguntas como: eles são religião? o que é cigano mesmo? Isso só aumentava mais minha certeza da necessidade desse trabalho ser realizado da maneira como foi abordado. É como se sentássemos o público na frente deles e deixássemos a conversa fluir. 

Mural da Ana Paula: Como foi o processo de produção? 

Lorena: A partir do tema definido, iniciamos uma pesquisa aprofundada sobre o tema, e depois fomos em busca do contato com a comunidade na cidade de Pindoretama. Como a Alice mora lá, ela conseguiu umas fontes para comunicar o desejo do nosso documentário, que foi o Instituto Cigano do Brasil. Depois desse primeiro contato, fomos ao local conversar com outros moradores ciganos e tentar se aproximar ao máximo do dia a dia deles, sem atrapalhar a sua rotina. Preparamos o roteiro baseado nas falas que tivemos dos próprios ciganos. Procuramos o cinegrafista mais adequados para o cenário, com experiência na vivência de documentário/filmes para compor a nossa equipe, que foi o Marcelo Falcão. Em uma rotina de 3 finais de semana conseguimos gravar o que queríamos para uma primeira avaliação. Iríamos utilizar o primeiro semestre de 2020 para ajustar alguma coisas, mas não foi possível por causa da pandemia. Fizemos o possível com o material que conseguimos conquistar. 

Mural da Ana Paula: Quais as maiores dificuldades no desenvolvimento do projeto ? 

Alice: Para mim a maior dificuldade foi deslocar material e equipe até Pindoretama, que embora seja próximo (45km de Fortaleza), a Universidade tem certas restrições a respeito do uso dos equipamentos. Mas depois de conversarmos com professor e coordenador, o pedido foi liberado. Outro momento mais complicado foi de montagem de roteiro e edição, pois precisávamos que tudo o que foi dito se encaixasse dentro de uma narrativa interessante.

Lorena: Acredito que a maior dificuldade foi transmitir o mais próximo possível da realidade e vivência dos ciganos.

Mural da Ana Paula: De que forma a produção desse documentário impactou a vida de vocês ? 

Alice: Como disse, eu já tinha uma certa aproximação dos ciganos da minha cidade, mas eu não fazia noção de vários aspectos, como as diferentes etnias, a quantidade de ciganos em território nacional, a luta recente deles para se organizarem enquanto povos tradicionais, enfim… foi uma quantidade enorme de conhecimento adquirida. Mas mais que isso, creio que aprendi muito sobre união, força e resiliência, porque é isso que o povo cigano da minha cidade representa para mim. 

Larissa: Esse documentário abriu muito a minha mente. Eu pude acompanhar rotinas completamente diferente da minha, vidas completamente diferentes, e isso me fez aprender muito, sobre família, sobre amor e sobre felicidade. 

Lorena: Impactos muito positivos, confesso que eu não esperava tanto. Porém, depois de você conhecer o mundo dos ciganos, sua representatividade pelo olhar dos próprios de Pindoretama, despertou em mim o conhecimento de procurar mais sobre os ciganos e entender a importância do nosso trabalho. 

Mural da Ana Paula: Vocês tem planos de dar continuidade a temática ou explorar o trabalho de outras formas? 

Alice: Acredito que ao passar da Pandemia, gostaríamos de dar uma melhorada no documentário, aprimorar o que não tivemos tempo. Mas por enquanto, enviamos o doc ao Indício*, e mesmo se o trabalho não for selecionado, creio que o reconhecimento desse documentário dentro da comunidade cigana, já é a validação de que o fizemos da melhor maneira que podíamos.

Mural da Ana Paula: Se envolver na produção desse trabalho e conhecer mais sobre os ciganos, foi surpreendente para vocês? 

Alice: Para mim foi surpreendente no sentido da abertura que eles tiveram com a gente, e na confiança que tiveram na nossa equipe. Porque contar sua história, e a história de um povo milenar, é algo que exige muita confiança em quem propôs a ideia. Então, mesmo eu sabendo que eles iriam topar, a harmonia entre a gente foi o que mais me surpreendeu e deixou feliz e motivada. 

Larissa: Foi uma surpresa muito boa quando a Alice compartilhou a ideia dela comigo. Eu não sabia nada sobre ciganos, não imaginei que eles estavam tão perto de nós na sociedade. E quanto mais eu conhecia a história deles mais eu me envolvia e mais me dedicava para fazer esse trabalho dar certo junto com minhas amigas. 

Mural da Ana Paula:. O trabalho de vocês já ultrapassou os muros da universidade e está disponível na internet para que outras pessoas possam ver. Como tem sido acompanhar o feedback de quem está tendo a oportunidade de assistir o documentário? 

Alice: Ah! Tá sendo recompensador! Na noite anterior a postagem no YouTube, eu nem consegui dormir, porque eu fiquei extremamente nervosa. Aqui no Brasil, temos três etnias ciganas, e uma vez na internet e divulgado pelo Instituto Cigano do Brasil, tanto Sintis, como Romanis e claro, Calons, teriam acesso a esse trabalho no país inteiro, então era uma responsabilidade muito grande, enorme, na verdade. Todo mundo ficava me dizendo que iria ser bem aceito, que tava lindo, que não tinha como desagradar, mas como tenho uma “leve” falta de confiança em mim mesma, fiquei com essa dúvidas, que ainda bem se mostraram todas erradas. Enfim, foi um trabalho feito com eles, para eles e por eles, então a aprovação do povo cigano é o que mais precisávamos. 

Larissa: Quando o documentário foi ao ar, o Instituto Cigano do Brasil divulgou bastante, e desde então a gente foi marcada em outras postagens de outros ciganos, eles ficaram gratos a nós e isso faz tudo valer a pena, é gratificante ter um feedback tão positivo. Era o que a gente queria. 

Lorena: Sou bem crítica e fiquei com um pouco de medo da repercussão. Mas o retorno positivos de grandes referências ciganas do Ceará e Brasil acalentou esse medo é transformou em felicidade e dever cumprido.

Alice Araújo, Larissa Almeida e Lorena Régis (da esquerda para a direita)

 

O Indício é um congresso organizado pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR) para selecionar os trabalhos que serão enviados para representar a universidade no Expocom –  Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação.*

Para assistir o documentário “Calon conta, Calon canta –  Narrativas Ciganas” e aprofundar-se mais nessa história, é só acessar o link: https://www.youtube.com/watch?v=WSZ1Qdjz4C4.

 

 

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